quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

* O ESSENCIAL DA PRÁTICA E ILUMINAÇÃO PARA PRINCIPIANTES


Texto do Venerável Mestre Han Shan (1546-1623)

Comentários do Venerável Mestre Kuo-Ku-Shi

Tradução para o português de Wu-ming (1947-    )

Han Shan Te Ching (1546-1623) é considerado um dos quatro mais eminentes monges Budistas do final da Dinastia Ming (1368-1644), em parte pela sua interação político-social com a corte Ming, em parte pelos comentários dos textos Budistas; mas, principalmente pela prática Ch’an. Nesta pequena introdução comentarei apenas a sua contribuição para o Budismo Chinês do ponto de vista da prática Ch’an.
Já aos sete anos de idade Han Shan tinha uma preocupação existencial relacionada com a vida e a morte. Esses pensamentos o levaram a abandonar a vida leiga começando o treinamento Budista aos nove anos de idade. Com 19 anos foi ordenado monge Budista.
Em toda a história do Budismo Ch’an não existiu um único mestre que escrevesse tão detalhadamente sobre sua própria prática e experiência, principalmente no que diz respeito ao estado da mente iluminada. De acordo com o relatado em “As Preambulações Oníricas do Grande Mestre Han Shan”, ele teve numerosas e extraordinárias experiências iluminadoras. Sua primeira experiência aconteceu durante uma exposição do Darma na qual ouviu o ensinamento profundo sobre a interação dos fenômenos do mundo como foi exposto no Avatamska Sutra e no tratado “Os Dez Portais Maravilhosos”. Algum tempo depois ele teve uma outra experiência iluminadora no Monte Wu Tai quando estava lendo o tratado “As Coisas Não Se Movem” de um monge Madyamika. De acordo com os relatos, Han Shan foi o revisor do Livro de Chao, a fonte de “As Coisas Não Se Movem”. Han Shan se deparou com a estória de um Bramacharim que saiu de casa na juventude e voltou quando tinha os cabelos brancos. Ao vê-lo, as pessoas perguntavam: “Esse homem ainda vive?” O Bramacharim respondeu: “Eu apenas pareço com aquele homem do passado, mas não sou ele”. Lendo essa estória, Han Shan de repente compreendeu que não há nem “ir” nem “vir”. Quando Han Shan se levantou da cadeira e começou a andar ele não via nada em movimento. Quando ele abriu a janela uma rajada de vento espalhou as folhas secas do chão por todos os lados, mas ele não viu nenhum sinal de movimento. Quando ele foi urinar ele não viu nada fluindo. Aí ele entendeu a frase do texto: “Correntezas e rios fluem para o oceano, mas não há nada fluindo”. Nesse momento, Han Shan dissipou todas as duvidas e preocupações existenciais em relação ao nascimento e à morte. Em seguida escreveu o seguinte poema:

“Vida e morte, dia e noite;
A água flui e as flores caem.
Apenas hoje eu percebi que
Meu nariz aponta para baixo!“

No dia seguinte, quando o grande mestre Ch’an Miao Feng o encontrou no pátio, ele percebeu que Han Shan estava diferente. Quando perguntou sobre o que tinha acontecido, Han Shan respondeu: “Ontem à noite vi dois touros de aço lutando na beira do rio. Ambos caíram dentro do rio, mas desde então não soube mais deles”. Miao Feng alegrou-se e o congratulou.
Em outra ocasião, depois da refeição, Han Shan deu um passeio pela montanha e experimentou um estado de samadhi profundo enquanto estava em pé. No relato, ele contou que de repente perdeu a consciência do corpo e da mente. Ele experimentou a totalidade do mundo inteiro contido em um espelho perfeito, tal como a mente. Depois que ele saiu daquele estado, ele escreveu o seguinte verso:

“No instante que dura um pensamento esta mente caótica é colocada para
Descansar.
Internamente e externamente os sentidos e seus objetos tornam-se vazios e claros.
Aniquilando o corpo, o vazio é agora dissolvido.
A miríade de formas aparece e desaparece em harmonia “.

Essas são apenas algumas das experiências relatadas em “As Preambulações Oníricas do Grande Mestre Han Shan”. As instruções sobre a prática transcritas a seguir foram extraídas do segundo fascículo do compendio de relatos. O texto original não tinha titulo, pois era parte de uma carta endereçada a um praticante Ch’an leigo.
Han Shan foi também um escritor prolífero, com mais de 8.300 páginas publicadas, desde comentários dos Sutras Budistas até poemas seculares. “As Preambulações Oníricas do Grande Mestre Han Shan” é um compêndio composto de 55 Capítulos com mais de 3.000 paginas. Seus comentários sobre o Tripitaka (o Cânone Budista) formam uma coleção de 119 Capítulos com mais de 1.200 paginas escritas de ambos os lados. Como aconteceu com outros monges Budistas da Dinastia Ming, seus comentários não se limitaram apenas aos textos Budistas, mas também abordaram outros textos, tais como o Lao-tse (Tao-Te-Ching) , o Chuang-tse e vários textos Confucionistas.
Sua contribuição para com o Budismo Chinês jaz na sua personalidade exemplar e na sua luta em prol da libertação do homem do sofrimento, especialmente numa época de desgoverno, corrupção,opressão interna e vulnerabilidade externa. Embora seus comentários não fossem particularmente brilhantes, a força de seus escritos provém de uma ativa participação no processo de revitalização e popularização do Budismo e da forma que ele respondeu aos desafios do seu tempo.
Por tudo o que sabemos de Han Shan, podemos concluir que ele foi um grande mestre que deu igual peso tanto à doutrina quanto à prática, contribuindo consideravelmente para o renascimento do Budismo Chinês naquela época.


O Essencial da Prática e Iluminação para Principiantes
Pelo Mestre Ch’an Han Chan
(1546-1623)


Como Praticar e Alcançar a Iluminação
No que diz respeito às causas e condições desta grande questão, a natureza do Buda é intrínseca a todos nós: em si já está completa dentro de nós , não faltando nada. O problema é que desde tempos imemoriais as sementes da paixão, o pensamento deludido, os estados emocionais e os hábitos profundamente enraizados têm obscurecido esta maravilhosa luminosidade. Nós não podemos percebê-lo porque permanecemos atolados nos pensamentos delulidos de corpo, mente e mundo, discriminando e discorrendo sobre isto ou aquilo. Por essa razão, permanecemos vagando no infindável ciclo de nascimento e de morte. Todavia, todos os Budas e os mestres ancestrais que apareceram neste mundo utilizaram incontáveis palavras e meios de expor o Ch’an e esclarecer a doutrina. Seguindo e encontrando seres sencientes com inúmeras disposições, todos os meios são como ferramentas utilizadas para esmagar nossa mente de apego e perceber que originariamente não há nenhuma substância real nos “darmas” ou no “ego”.
O que comumente chamamos de prática nada mais é do que a simples aceitação de qualquer que seja o estado da mente de forma a purificar e rejeitar os pensamentos delulidos e os traços dos hábitos adquiridos. Concentrar os esforços nisso é chamado “prática”. Se num determinado momento o pensamento deludido de repente desaparece, perceber-se-á a própria mente , vasta e aberta, brilhante e luminosa, intrinsecamente perfeita e completa. Esse estado, sendo originariamente puro, sem uma única coisa , é chamado “iluminação”. Fora essa mente não existe nem o cultivo nem a iluminação. A essência de nossa mente é como um espelho e todos os traços dos pensamentos deludidos e o apego às condições são a poeira impura da mente. O conceito de aparência é a poeira impura e a consciência emocional é a impureza. Se todos os pensamentos deludidos se desvanecessem, a essência intrínseca se revelaria por si só. È como quando a poeira é limpa: o espelho recupera seu brilho. O mesmo acontece com o Darma.
No entanto, nossos hábitos adquiridos, as impurezas e os apegos acumulados através das eras se tornaram sólidos e profundamente enraizados. Por sorte, através da condição criada pela orientação de um bom amigo espiritual, nossa prajná (sabedoria) interior como causa pode influenciar nosso ser de tal forma que a prajná inerente pode ser aumentada consideravelmente. Tendo percebido que a prajná é inerente a todos nós , seremos capazes de desenvolver a mente iluminada e dirigir nossos passos no sentido de aspirar à renuncia ao ciclo de nascimento e de morte. A tarefa de desenraizar de repente as raízes do nascimento e da morte acumuladas através de incontáveis eras é uma questão muito sutil. Se não se é alguém com força e coragem suficientes como para vencer tamanho obstáculo e pegar um atalho direto ao assunto sem a menor hesitação, a tarefa será extremamente difícil. Um mestre ancestral, disse uma vez: “É como enfrentar dez mil inimigos sozinho”. Essa frase não mente!

A Entrada para a Prática e a Iluminação
De um modo geral, nesta época de descaimento do Darma há mais gente praticando do que alcançando a iluminação. Há mais gente desperdiçando seus esforços do que desenvolvendo seu poder. Por que isto? Porque eles não concentram seus esforços diretamente no assunto e desconhecem os atalhos. Em lugar disso, a maioria enche sua mente com o conhecimento de palavras e uma linguagem baseada naquilo que ouviram,; ou avaliam as coisas através de suas discriminações emocionais; ou reprimem seus pensamentos deludidos ; ou ficam deslumbrados com as visões fantásticas de suas portas sensoriais. Essas pessoas guardam as palavras dos mestres ancestrais nas suas mentes e as consideram como se fossem reais. Pior ainda, eles adotam essas palavras como se fossem as expressões de seus próprios conceitos. Mal eles sabem que nenhuma dessas palavras tem o mínimo de utilidade. Isso é chamado: “apegando-se ao conhecimento dos outros e obstaculizando a própria passagem para a iluminação”.
Para se engajar na prática, em primeiro lugar deve-se afastar do conhecimento e do intelecto, e com uma mente única devem-se concentrar todos os esforços em um único pensamento. Deve-se ter uma firme convicção na própria mente que originariamente é pura e transparente, sem a menor mácula, é brilhante e perfeita e permeia todo o Darmadatu (Universo). Intrinsecamente não há corpo, mente ou mundo, nem pensamentos deludidos, nem estados emocionais. Neste preciso instante este pensamento não nasceu! Tudo o que se manifesta perante nós é insubstancial e ilusório; tudo é um reflexo projetado pela verdadeira mente. Deve-se procurar esmagar todos os pensamentos deludidos. Deve-se dirigir a mente no sentido de observar onde os pensamentos aparecem e onde desaparecem. Quando se pratica desta forma, independentemente do tipo de pensamentos deludidos que apareçam, um único golpe e eles serão cortados em pedacinhos. Todos os pensamentos se derreterão e desaparecerão. Nunca se deve seguir ou alimentar os pensamentos deludidos. O mestre Chung Chia advertiu: “Deve-se romper com a mente que deseja continuar”. Isto porque a mente ilusória da delusão originariamente não tem raízes. Nunca se deve considerar um pensamento deludido como se fosse real nem tentar grudá-lo na mente. Assim que ele aparecer, tome consciência dele imediatamente. Uma vez que se toma consciência dele, ele desaparecerá no ato. Nunca se deve tentar reprimir os pensamentos; pelo contrário, deve-se permitir que eles apareçam e observá-los como se fossem vasos flutuando na água.
Deve-se esquecer do corpo, da mente e do mundo e simplesmente desenvolver esse método de um pensamento único como se fosse uma espada cortando o céu. Apareça um Buda ou um Mara (Demônio), apenas corte suas cabeças como se corta um fiapo de seda emaranhada. Use pacientemente todos os seus esforços e suas forças e puxe sua mente até o fim. O ditado: “Uma mente que mantém o pensamento correto da verdadeira essência”, significa que o pensamento correto é o não-pensamento. Quando se é capaz de contemplar o não-pensamento, então já se está caminhando em direção à sabedoria dos Budas.
Aqueles que praticam e geraram recentemente a mente iluminada devem ter convicção no ensinamento apenas da mente. O Buda disse: “Os três campos (desejo,matéria e não-matéria) são apenas a mente; a miríade de darmas é apenas a consciência”. Todo o Budadarma (a doutrina do Buda) é uma extensão dessas duas frases, de forma que qualquer pessoa será capaz de discernir, entender e ter fé nessa realidade. As entradas para o sagrado e o profano são apenas as portas da delusão e da iluminação dentro da própria mente. Fora da mente, todos os carmas de virtudes e vícios são inalcançáveis. A natureza intrínseca de cada um é maravilhosa. É algo natural e espontâneo e não uma coisa que possa ser “iluminada”, uma vez que cada um de nós a possui naturalmente. Conseqüentemente, como se pode estar deludido de alguma coisa? A delusão é apenas o desconhecimento de que na mente intrinsecamente não existe uma única coisa e que o corpo , a mente e o mundo são originariamente vazios. Porque há uma obstrução que impede a percepção disso, há delusão. Sempre se tem considerado que a mente pensante e deludida, que constantemente aparece e desaparece, é real. Por essa razão também se tem considerado reais as inúmeras transformações ilusórias e as aparências dos seis objetos dos sentidos (objetos ouvidos, vistos, cheirados, degustados, sentidos e pensados). Se hoje se está determinado a desenvolver a mente afastando-se daquela direção e a seguir o caminho superior, então se devem deixar de lado todos os conceitos e o intelecto. Aqui, nem uma única gota de conhecimento intelectual ou inteligência será útil. Deve-se apenas enxergar através do corpo, da mente e do mundo que aparecem na nossa frente e perceber que todos são insubstanciais. Sendo reflexos imaginários são iguais às imagens de um espelho ou à lua refletida na água. Devem-se ouvir todos os sons e vozes, como o vento que passa pela floresta; deve-se perceber que todos os objetos são como nuvens passageiras que desaparecem no céu.
Tudo está num constante estado de mutação: tudo é ilusório e insubstancial. Não apenas o mundo exterior é assim, mas os pensamentos deludidos, as discriminações emocionais da mente, as sementes da paixão, os hábitos adquiridos e as aflições também não têm fundamento e são insubstanciais.
Assim, deve-se empenhar na contemplação de forma que quando um pensamento aparece deve-se encontrar a sua origem. Um pensamento nunca deve passar inadvertidamente, sem que se olhe através dele. Não se deixe enganar por ele! Desta forma, estar-se-á praticando de verdade. Não tente formar nenhum conceito intelectual sobre ele ou elaborar alguma intelectualização sobre ele. Todavia, falar sobre a prática é na realidade a última alternativa. Por exemplo, o uso de armas não é nada auspicioso! Mas elas são usadas em último caso. Os mestres ancestrais falavam sobre a investigação Ch’an e o desenvolvimento do hua-tou. Essas também são as últimas alternativas. Apesar de existirem incontáveis kung-an (koan) , somente pela utilização do hua-tou: “Quem está recitando o nome do Buda?”, pode-se facilmente extrair poder no meio de situações de sofrimento. Mesmo conseguindo facilmente extrair poder dele, esse hua-tou é apenas uma telha partida tentando derrubar uma porta. Um dia será necessário jogá-lo fora. Porém, hoje ainda deve ser usado. Quando se pretende usar um hua-tou para praticar, deve-se ter uma fé inabalável, constância e perseverança. Não se pode ter o mínimo de hesitação ou incerteza. Tampouco se deve estar de um jeito hoje e de outro jeito amanhã. Não se deve estar preocupado com a possibilidade de alcançar ou não alcançar a iluminação, nem se deve achar que o hua-tou não é suficientemente profundo. Todos esses pensamentos são apenas obstáculos. Agora eu devo falar sobre eles de forma que a dúvida e a desconfiança não apareçam quando confrontados com as dificuldades.
Pode-se desenvolver o poder do próprio poder, pois o mundo exterior não exercerá nenhuma influência. Entretanto, interiormente a mente pode dar lugar a uma distração desvairada sem nenhum motivo aparente. Algumas vezes, o desejo e a luxúria aparecem; outras vezes invade a preguiça. Muitos obstáculos podem aparecer fazendo com que o praticante se sinta física e mentalmente exausto. Pode-se não saber o que fazer. Há uma serie de obstáculos cármicos que foram depositados na oitava consciência (alaya-vijnana) durante incontáveis eras. Hoje, devido à prática energética, eles aparecerão. Neste momento crítico será necessário discernir e enxergar através deles para superar tais obstáculos. Nunca se deve deixar ser manipulado ou controlado por eles e, o mais importante, nunca se deve considerá-los como se fossem reais. A esta altura deve-se aliviar o espírito e estimular a coragem e a diligência e desenvolver uma preocupação existencial em relação à investigação do hua-tou. Deve fixar-se a atenção no ponto onde os pensamentos aparecem e constantemente pressionar mais e mais, perguntando-se: “Originariamente não há nada dentro de mim ; então, de onde vem esse obstáculo?” Deve-se estar determinado a encontrar o fundo dessa questão. Pressionando o tempo todo, aniquilando todas as delusões em vista, sem deixar um único vestígio, até que os espíritos e os demônios explodam em lágrimas. Quando se pratica desta forma, boas novas surgirão naturalmente .
Quando se bate com um único pensamento, então de repente todos os pensamentos deludidos são descobertos. Sentir-se-á como uma flor no firmamento que não tem uma única sombra ou como um sol brilhante emitindo raios de luz ilimitados ou como uma fonte límpida, transparente e clara. Depois dessa experiência, haverá incomensuráveis sentimentos de luz e bem-estar, assim como uma sensação de liberdade. Isso é um sinal de que o principiante está obtendo poder da prática. Não há nada de maravilhoso ou extraordinário nisso. Não deve se deixar ser envolvido por isso ou se atolar nessa experiência envolvente. Se isso acontecer, o Mara da Felicidade recuperará o poder e uma nova obstrução estará instalada. Ocultos dentro do depósito da oitava consciência estão os hábitos profundamente enraizados e as sementes da paixão. Se a prática do hua-tou não está dando resultado ou há incapacidade de contemplar e iluminar a mente ou simplesmente há uma impossibilidade de se engajar na prática; então se deve praticar a prostração., ler os sutras e se ocupar com o arrependimento. Também se podem recitar as mantras para receber o selo secreto dos Budas; isto reduzirá os obstáculos. Isso porque todas as mantras secretas são o selo “da mente de diamante dos Budas”. Quando elas são cantadas é como dispor de um raio de diamante que pode destruir tudo. Qualquer coisa que se aproxime dele será reduzida a partículas de pó! A essência de todos os ensinamentos esotéricos de todos os Budas do passado e de todos os mestres ancestrais está contida nas mantras. Por isso é dito: “Todos os Tatagatas (um dos muitos nomes do Buda) nas dez direções alcançaram a insuperável e perfeita iluminação correta através das mantras”. Apesar dos Budas terem dito isso claramente, a linhagem dos mestres ancestrais, temendo que essas palavras fossem utilizadas para o mal, as mantiveram em secreto e não mais utilizaram esse método. De qualquer forma, para obter poder utilizando uma mantra deve-se praticar regularmente durante muito, muito tempo. Todavia, nunca se deve esperar ou procurar um milagre através do uso da mantra.

Iluminação Intelectual e Iluminação Verdadeira
Há os que primeiro se iluminam e depois praticam e há os que primeiro praticam e depois se iluminam. Também, há uma diferença entre iluminação intelectual e iluminação verdadeira.
Aqueles que compreendem suas mentes depois de ouvir os ensinamentos dos Budas e dos mestres ancestrais alcançam uma iluminação intelectual. Na maioria das vezes essas pessoas caem nos conceitos e no conhecimento. Na hora de enfrentar as dificuldades, eles não serão capazes de colocar em prática aquilo que aprenderam. Suas mentes e os objetos exteriores estão em oposição. Não há nem unidade nem harmonia. Assim, eles encontram obstáculos o tempo todo. O que eles alcançam se chama “a aparência da prajná” e não é o resultado da prática genuína.
A iluminação verdadeira é o resultado da prática sólida e sincera, quando se chega ao impasse em que as montanhas são improdutivas e as águas se exauriram. De repente, no instante em que o pensamento pára, perceber-se-á a mente por completo. Nesse momento, o praticante sentir-se-á como se tivesse visto o próprio pai no meio da multidão; ou seja, não terá nenhuma dúvida em relação a isso! É como quando se bebe água: somente quem bebe sabe a temperatura exata da água e não é algo que possa ser descrito com palavras. Isso é prática genuína e iluminação verdadeira.
Esse estado de iluminação verdadeira pode ser dividido em realização superficial e realização profunda. Quando os esforços se concentram na raiz da existência, destruindo o antro da oitava consciência e derrubando instantaneamente o refugio da ignorância fundamental, entrando diretamente no campo da iluminação através de um único golpe; então não há mais nada a aprender. Isso é dispor das raízes cármicas supremas. A realização será em verdade muito profunda. Por outro lado, o grau de realização daqueles que praticam gradualmente será superficial.
O pior de tudo são aqueles que se satisfazem com as pequenas experiências. Nunca deve se deixar envolver pelas deslumbrantes experiências que provêm das portas sensoriais! Por que? Porque a oitava consciência ainda não foi esmagada, de forma que quaisquer que sejam as experiências ou feitos estarão condicionados pela consciência deludida e pelos sentidos. Quando se pensa que essa consciência é real, então é como confundir o ladrão com seu próprio filho! Um mestre ancestral disse: “Aqueles que se engajam na prática não sabem o que é real porque até agora eles pensam que suas consciências são verdadeiras e o que o tolo confunde com seu rosto original, na realidade é a causa do nascimento e da morte”. Essa é a barreira que se deve superar.
A chamada “iluminação repentina e prática gradual”, refere-se a alguém que experimentou a iluminação completa mas ainda tem hábitos remanescentes que não foram purificados instantaneamente. Essas pessoas devem colocar em prática os princípios derivados da iluminação que alcançaram para enfrentar todas as circunstâncias da vida e devem desenvolver a força da contemplação e da iluminação para experimentar suas mentes em situações adversas. Quando uma fatia dessa experiência está de acordo com o caminho iluminado, eles terão realizado uma fatia do seu Darmakaya (o corpo espiritual, invisível para os homens comuns e apenas visível para os Budas). Quando eles dissolvem uma fatia dos seus pensamentos deludidos, esse é o grau de manifestação de sua sabedoria fundamental.

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